Com som e fúria, os egípcios experimentam sua versão do “tamo junto e misturado”. Não foi outro sentimento que recuperou o fôlego da mobilização civil na praça Tahir, na terça-feira (08), quando Wael Goneim, executivo do Google convertido em ativista preso por 12 dias, falou à multidão. Ali estava mais um que o governo tentou calar e não conseguiu.
Está aí a novidade da revolta, e não no oba-oba das redes sociais, incensado no Ocidente por analistas instantâneos da “revolução digital” e do seu “poder democratizante num mundo sem fronteiras”. Tudo tão ao gosto de campanhas publicitárias de telefonia móvel. Inegável que a internet amplificou a insatisfação popular, mas é um misto de hipocrisia e deslumbramento creditar às redes sociais a mobilização num país onde cerca de 40% passam fome e 30% são analfabetos.
O fracassado apagão online imposto pelo governo Mubarak, mais que silenciar o povo, visava cegar o mundo externo. Do lado de cá, a fina “censura corporativa” contribui para nossa miopia sobre a realidade egípcia. Grandes operadoras de TV, inclusive no Brasil, não oferecem o serviço da Al Jazeera e privam seus clientes de ver a história pela lente de quem realmente entende o que se passa.
Enquanto redes como BBC e CNN fazem uma cobertura coxinha, a emissora qatariana está nas ruas, dando voz aos manifestantes. Mesmo empastelada no Cairo e abafada por aqui, a Al Jazeera bate recordes de audiência no seu site, abastecendo via stream gente ávida por uma cobertura mais sofisticada. Em alguns momentos, chegou a passar o New York Times.
Se o levante irá de fato consolidar a liberdade dos egípcios, ainda está por se ver. Lembremos também que liberdade não necessariamente resulta em democracia, igualdade ou tolerância. Leva tempo; nós brasileiros sabemos bem. Além do mais, o futuro não tem garantia, como aponta o colega Walter Hupsel. Mas o recado das ruas do Cairo é animador e ecoa o vingador V: “O povo não deve temer seu governo. O governo é que devem temer seu povo.” Recorte do Yahoo Notícias
Por: Michel Blanco
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